Pode parecer estranho escolher gordura como fonte de energia na alimentação, mas, para muitas pessoas, esse método faz sentido.
O raciocínio é simples, ao eliminar quase todos os carboidratos, o organismo busca uma nova forma de funcionar.
E é aí que acontece o fenômeno chamado cetose.
Como a Dieta Cetogênica funciona?
O corpo humano tem preferência por usar glicose, vinda dos açúcares e amidos, para gerar energia. Quando a ingestão de carboidrato cai muito (algo próximo de 20 a 50g por dia), o organismo tem que se virar. Então “liga a chave” da cetose.
Nesse processo, a gordura estocada é quebrada e convertida em corpos cetônicos, pequenas moléculas energéticas, agora escolhidas pelo cérebro e músculos como combustível. Parece mágica, mas tudo se baseia na bioquímica descrita em estudos científicos sobre o mecanismo cetogênico.
Esse jeito de comer geralmente inclui:
- 70 a 80% de calorias vindas de gordura
- 15 a 25% de proteínas
- 5 a 10% de carboidratos
É uma mudança intensa, que mexe com o metabolismo e nem sempre é 100% linear, alguns dias são tranquilos, outros mais difíceis, especialmente no início.
Quais alimentos são permitidos na Dieta Cetogênica?
Ao montar a rotina alimentar baixa em carboidratos, percebe-se que a lista de alimentos “liberados” é bastante característica. Veja alguns principais parceiros da Dieta Cetogênica:
- Ovos de todos os tipos
- Carnes vermelhas e aves
- Peixes gordurosos, como salmão, sardinha e atum
- Queijos amarelos, creme de leite e manteiga
- Nozes, castanhas, amêndoas e sementes
- Abacate
- Azeite de oliva, óleo de coco e óleo de abacate
- Vegetais de baixo amido: alface, espinafre, couve, brócolis, couve-flor, pepino, abobrinha
O prato é colorido, mas tem poucos grãos ou raízes.
Por outro lado, alguns alimentos se tornam “proibidos”: pão, massas, bolos, arroz, batata, frutas doces e leguminosas tradicionais.
Dieta Cetogênica para usos terapêuticos: quando faz diferença?
Por que tanta gente decidiu seguir a restrição de carboidratos? Não é só para emagrecer, embora esse seja o motivo mais popular.
No início do século 20, médicos já usavam o plano alimentar cetogênico para tratar epilepsia resistente em crianças. Vários estudos mostravam que, ao entrar em cetose, o cérebro alterava sua atividade elétrica e diminuía o número de crises.
Hoje, além do controle da epilepsia, há crescente interesse no potencial para o emagrecimento e como complemento em protocolos de pacientes com câncer. Isso ocorre porque, sem glicose disponível, algumas linhagens de células tumorais podem ter sua proliferação reduzida.
Ainda faltam certezas, mas a pesquisa não para.
Além disso, nos últimos anos surgiram estudos sugerindo que ações restritivas prolongadas de carboidratos podem influenciar o processo de envelhecimento celular.
Ao reduzir marcadores inflamatórios, talvez o corpo sentisse menos “desgaste” interno. Ao mesmo tempo, algumas análises alertam para perigos da restrição contínua, que pode aumentar o risco de deficiências, estresse oxidativo e resposta pró-inflamatória após longos períodos sem pausas.
Efeitos colaterais, riscos e acompanhamento
Na Dieta Cetogênica, alguns efeitos colaterais são percebidos no início (e às vezes no decorrer) do processo. Os sintomas podem incluir:
- Muita fadiga, especialmente nos primeiros dias
- Dores de cabeça e dificuldade de focar
- Mau hálito, constipação ou diarreia
- Fraqueza muscular e irritabilidade
- Perda muscular em alguns casos
- Possível aumento de colesterol
- Chance aumentada de hipoglicemia
Para minimizar riscos, recomenda-se sempre acompanhamento de um nutricionista ou endocrinologista.
Profissionais adequados criarão um plano personalizado, pedindo exames frequentes (colesterol, perfil hepático, renal, hemograma) e avaliando sintomas.
Nem todas as pessoas respondem bem ao mesmo cardápio. E, se for preciso, estratégias de ciclagem (fazer pausas na dieta) podem ser importantes para evitar sobrecarga inflamatória.
Conclusão
Seguir uma estratégia alimentar que busca a transformação do metabolismo traz desafios e pede atenção.
O corte radical dos carboidratos pode ser um caminho para novas sensações de disposição, mudanças na balança, redução de crises epilépticas e, quem sabe, contribuir como um aliado complementar em algumas doenças. Mas nada disso ocorre de um dia para o outro e nem sempre sem custos.
Cada organismo responde de uma forma, há pequenos detalhes para ajustar conforme o tempo passa.
Talvez o mais importante seja a escuta do corpo (e dos profissionais que entendem desses ajustes), além da abertura para reavaliar sempre, os riscos e benefícios caminham juntos e o equilíbrio não está em um ponto fixo. Na dúvida, vá devagar, investigue e, se for o caso, faça pausas adequadas. O caminho é de aprendizado. E nunca, nunca mesmo, de fórmulas universais e definitivas.
Perguntas frequentes
O que é a Dieta Cetogênica?
A abordagem cetogênica é um estilo de alimentação que restringe (e muito) os carboidratos e aumenta bastante a quantidade de gordura consumida. Assim, o corpo entra em cetose, usando os corpos cetônicos produzidos a partir da gordura como principal fonte de energia, em vez da glicose. Não é só um regime de “proteína”: a gordura realmente é a base dessa estratégia.
Quais alimentos são permitidos na cetogênica?
Entre os alimentos liberados, destacam-se ovos, carnes vermelhas, frango, peixes gordos como salmão e sardinha, queijos amarelos, creme de leite, manteiga, óleos saudáveis (como azeite de oliva e óleo de coco), sementes, azeite, nozes e vegetais pobres em carboidrato (folhas verdes, abobrinha, couve-flor, brócolis e outros similares). Raízes, frutas doces, massas e pães não entram neste menu.
Como começar uma dieta cetogênica?
O mais indicado é buscar auxílio de um nutricionista, que vai planejar um cardápio ajustado ao perfil individual e pedir exames para garantir segurança. Começar do nada, sem orientação, pode levar a desconfortos e riscos. Normalmente, o início é o período mais desafiador. Pode haver tontura, irritação e fraqueza, mas sintomas tendem a ficar mais leves depois de 7 a 14 dias. Registrar o que come e ouvir as próprias reações também ajuda bastante no processo.
Quais os benefícios da cetogênica?
Entre os benefícios estão o emagrecimento rápido, controle do apetite, redução de picos glicêmicos, potencial auxílio no controle de epilepsia e possível redução de marcadores inflamatórios. Algumas pesquisas também analisam efeitos positivos como auxiliar em tratamentos de câncer e na redução do envelhecimento celular, mas essas áreas ainda têm muitas perguntas em aberto.
Dieta cetogênica emagrece mesmo?
Para a maioria das pessoas, sim. O emagrecimento ocorre porque, sem glicose disponível, o corpo passa a recorrer à gordura estocada para gerar energia. O apetite também tende a cair, facilitando o déficit calórico. No entanto, não é automático: a perda de peso depende de vários fatores, como composição do prato, disciplina e contexto de saúde. Nem todo mundo emagrece da mesma forma, e há relatos de platôs ou adaptações ao longo do tempo.